Uma onda de descontentamento tomou conta do Brasil. Vinte centavos a mais na passagem de ônibus em São Paulo foram o estopim de um conjunto de manifestações que tomaram as ruas das principais cidades brasileiras. A conta aumentou e a cobrança que, antes, seria por centavos se multiplicou numa extensa pauta de reivindicações. Ontem, São Paulo teve o sexto dia de protestos. Militantes foram às ruas também em Florianópolis, Rio de Janeiro, Fortaleza, alem de 40 cidades no exterior.
Um dia antes, o coro de insatisfação desfilou também nas ruas de outras 11 capitais – inclusive Salvador –, reunindo cerca de 250 mil pessoas. Foi a maior mobilização popular desde 1992, quando a população pediu o impeachment de Fernando Collor.
Três momentos emblemáticos marcaram o dia: a invasão do Congresso e as tentativas na Assembléia Legislativa do Rio e na sede do governo em São Paulo.
O endurecimento da repressão policial e a falta inicial de diálogo do Estado contribuíram com as mobilizações. Nas ruas, o aumento das tarifas de transporte deu vez a assuntos como o combate à corrupção, os gastos da Copa e a reivindicação de melhoria nos serviços públicos, como saúde, educação e segurança.
Estopim do movimento, São Paulo teve 65 mil pessoas nas ruas em dia histórico de protesto. |
Mas qual é o real significado dessas manifestações? Para o cientista político da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) Antônio Carlos Mazeo, o movimento transcende à mera insatisfação da tarifa de ônibus. “O protesto é contra tudo o que a população rejeita, inclusive as formas de representação política”, analisa.
O também cientista político Jorge Almeida, da Universidade da Bahia (Ufba), lembra que as insatisfações populares sempre existiram, mas de forma dispersa. Ele cita como exemplos as greves dos servidores públicos no anos passado e os mais recentes protestos contra homofobia. “Todos esses elementos são sinais que a resistência social aumentou e criaram o ambiente propício para o que estamos vendo agora”.
O também cientista político Jorge Almeida, da Universidade da Bahia (Ufba), lembra que as insatisfações populares sempre existiram, mas de forma dispersa. Ele cita como exemplos as greves dos servidores públicos no anos passado e os mais recentes protestos contra homofobia. “Todos esses elementos são sinais que a resistência social aumentou e criaram o ambiente propício para o que estamos vendo agora”.
E o que estamos vendo agora, na opinião dos dois especialistas, é um momento histórico. “Principalmente porque ocorre num regime democrático”, observa Mazeo. “(A ida das pessoas às ruas) tem um significado profundo. Isso não é pouca coisa. Revela que o povo quer participar dos processos no país”.
Jorge Almeida também destaca a importância do movimento. “Isso mostra que não estamos vivendo uma paz de cemitério. Há um grau de critica da população inteira”.
As cenas da ultimas semanas reforçam também o poder da tecnologia. Assim como ocorreu nos EUA, com o Occupy Wall Street, em 2011, ou na Primavera Árabe, um ano antes, no Oriente Médio, as redes sociais desempenham um papel fundamental nos protestos. É através delas que os assuntos são colocados em pauta e é por elas também que as mobilizações são organizadas. “Nada mais natural”, na visão do professor e pesquisador de Comunicação e Política da Ufba Wilson Gomes. “São os novos meios de contato, então eles teriam que fazer parte do pacote”, diz.
Mesmo com rumos imprevisíveis, o movimento deixa um legado positivo, avaliam os especialistas. Contudo, ponderam, é preciso ter uma coordenação política. “O movimento não é acéfalo, mas é preciso organizar todos esses desejos. É necessário ter um programa político, para que o mesmo seja cobrado e, posteriormente, executado”, conclui Mazeo.
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Fonte: Correio*
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